[Resenha] Oswald de Andrade: Mau Selvagem
Como amar e odiar um dos gênios da nossa literatura
Por Vanessa Gonçalves
Existem personagens complexos. E existiu Oswald de Andrade. A incrível biografia “Oswald de Andrade: Mau Selvagem", de Lira Neto, tem como principal qualidade o fato de jogar limpo com o leitor ao retratar o pai do modernismo brasileiro sem mascarar suas contradições.
Filho único nascido em berço de ouro, não surpreende que Oswald tenha agido como um bon vivant por toda sua vida, mesmo quando lhe faltaram dinheiro e prestígio. Certo de que estava acima do bem e do mal, ele foi um péssimo filho, marido, namorado, amante, amigo e pai.
Mas o filho da mãe tinha carisma, uma inteligência acima da média e coragem suficiente para defender suas ideias, independentemente do preço a pagar. Essa intempestividade foi responsável por seu sucesso e sua ruína, na mesma medida. Mas, os gênios são assim: amados e odiados e, nem sempre compreendidos.
Se ao longo de sua vida a obra de Oswald nunca tenha ficado em primeiro plano, com o tempo ela foi ocupando o espaço devido e conquistou o reconhecimento merecido. Basta lembrar o arrebatamento de crítica e público com a primeira montagem de “O Rei da Vela", somente em 1967, por José Celso Martinez. Talvez fosse mesmo necessário tempo para que seus textos pudessem ser, de fato, compreendidos.
Em resumo: o grande mérito do livro de Lira Neto é nos apresentar esse Oswald tão contraditório e interessante. Boas biografias são aquelas que não passam pano para o biografado e, nem de longe, o autor tentou isso. Portanto, este é um daqueles livros essenciais para conhecer a história da nossa cultura de um jeito honesto e sem ufanismo.